Pão – Do Latim, Pane – substantivo masculino, alimento feito de farinha amassada, geralmente fermentada, e cozida no forno. Muito mais que um alimento, parte da cultura mundial, sinônimo de trabalho ou mesmo religião. Presente praticamente desde o início da era neolítica e um dos primeiros produtos manufaturados a existir. Mas exatamente de onde vem? Como surgiu?
Não existindo um consenso sobre exatamente quando o pão apareceu, indícios apontam os primeiros registros de algo, pelo menos similar, por volta do ano 10.000 a.C., na região a nordeste da atual Jordânia. Nessa época, provavelmente, estamos falando de um pão achatado, mais fino e mais duro, isso porque não há indícios de que nessa fase ele passasse por um processo de fermentação. É exatamente aqui, que reside um dos pontos mais misteriosos (e polêmicos) da história do pão: quando e como é que foi introduzida a fermentação em sua fabricação.
Provavelmente, de uma forma casual, quando alguém deixou uma massa descansando, a primeira fermentação aconteceu, surgindo um produto mais macio, com mais volume e leveza, que ao ser provado deu origem a um produto mais próximo daquilo que consumimos atualmente. Essas primeiras descrições de como fazer pão da nossa forma (levedados) e do pão como moeda de troca (era juntamente com a cerveja uma forma de pagamento de salários), rondam o ano de 4.000 a.C, no Antigo Egito. A importância dele já era tanta, que inscrições com o processo de fabricação aparecem mesmo em tumbas de reis da antiga civilização.
Tamanha era a importância do pão no dia a dia da cultura egípcia, que os próprios faraós controlavam a fabricação do pão, por meio da produção de grãos, mas também do controle dos fornos e das padarias reais. Os melhores cereais eram já um fator de diferenciação socioeconômica, sendo utilizados para a produção dos melhores produtos, destinados às classes predominantes da sociedade.
Curioso é que a diferenciação social já feita no Egito por meio do pão, torna-se um fator predominante das diferentes culturas e sociedades ao longo dos tempos. Sendo um alimento básico nas economias a partir de então, desde praticamente o seu início, as diferentes qualidades (e respectivos custos de produção) permitiram que o pão fosse não só um alimento de diferenciação social, mas também de controle político sobre a população.
Posteriormente ao Egito, essa característica do pão torna-se presente em outras civilizações, enquanto mais tarde Gregos davam a sua importância às deusas dos cereais (Deméter) e do pão (Héstia), na antiga Roma tal importância era não só expressa nos Deuses, mas também na filosofia política de “pão e circo”, na qual a alimentação era representada pelo pão, e a cultura representada pelo circo. Interessante que há prevalências desse tipo de política em algumas sociedades até os nossos dias de atuais.
Também esse caráter religioso do pão atravessa os tempos, permanecendo fortemente presente em várias religiões, mas com predominância no Cristianismo, onde o pão representa o corpo de Cristo, e a cerimônia da sagrada eucaristia (repartição do pão) é repetida diariamente ao redor do mundo. Várias lendas existem nas diferentes religiões relacionadas com o pão, reforçando não só o seu caráter sagrado, mas também a sua força cultural.
Com a evolução dos tempos, o pão se tornou mais complexo, mais moderno, com mais variedades e qualidades. Fortaleceu a sua natureza de alimento das massas populacionais, e é a base de vários alimentos que consumimos atualmente. Seja sob a forma de pães, sanduíches, viennoiserie ou mesmo pizza, a base do pão está lá. O público consumidor é cada vez mais exigente, demandando não só variedade, mas também qualidade, quantidade, saudabilidade e processos artesanais que remetem ao pão antigo.
Pães de fermentação longa, de fermentação natural, com menos aditivos químicos e maior qualidade são cada vez mais exigidos, num paradoxo de conseguirmos produzir em escala industrial produtos artesanais. Um desafio colocado às indústrias de panificação, para que consigam manter tais características com grandes volumes de produção. Felizmente, hoje existem processos e equipamentos modernos que conseguem entregar exatamente essas características, e o futuro do pão certamente irá caminhar ao encontro daquilo que se fazia antigamente. A união da tradição com a tecnologia é perfeita na indústria de panificação.
O pão é parte fundamental da nossa história. Seja pelo seu caráter de base da alimentação, por força política, diferenciação social ou mesmo religiosa, o produto está presente na história do mundo. Hoje mais moderno e, ao mesmo tempo, retornando aos processos artesanais, mais antigos de fabricação, ele continua seguindo como um forte produto cultural, em que o ato de nos juntarmos para o seu consumo é um ato de união e amor.
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